O Equalisah conta com a oferta de formações com o objetivo de repensar masculinidades e combater a violência de gênero
O Ministério da Saúde lançou uma parceria com a Estratégia de Qualificação Profissional para a Saúde do Homem (Equalisah), coordenada pelo Núcleo de Estudos de Saúde Pública (Nesp), da Universidade de Brasília (UnB), com o objetivo de repensar masculinidades para o enfrentamento da violência contra meninas e mulheres. A qualificação destinada aos profissionais de saúde da atenção primária à saúde (APS) do Sistema Único de Saúde (SUS) conta com conteúdos e métodos que promovem a escuta qualificada, o apoio psicossocial, a integração com a rede de cuidados e a problematização da relação entre masculinidades e violências para incidir sobre o grave problema social da violência de gênero.
A expectativa do projeto para o próximo ano é que as formações sejam ofertadas para mais de 2.7 mil trabalhadores em todos os estados do Brasil. Com essas qualificações, as equipes de saúde terão mais subsídios para ofertar cuidado integral aos homens usuários do SUS, a fim de prevenir o envolvimento em situações de violência doméstica. O projeto é coordenado por Cláudio Lorenzo, professor da Faculdade de Ciências de Saúde (FS) da UnB, com a vice-coordenação da professora Carla Targino, da mesma faculdade.
“O objetivo principal é promover um cuidado direcionado aos homens envolvidos em contextos de violência, com o foco de proteger mulheres e meninas. Nossa ideia é capacitar os trabalhadores da atenção primária para identificar mulheres e meninas em risco de sofrer violência, assim como homens em risco de cometê-la, garantindo, a partir disso, os encaminhamentos e abordagens necessários, incluindo a formação de grupos”, explica Lorenzo.
Uma das ações da Equalisah é a oferta do curso "O Cuidado à Saúde do Homem em Contexto de Violência e a Proteção de Meninas e Mulheres no Âmbito da APS". A qualificação abordará temas como: a construção social das masculinidades e a violência enquanto problema de saúde; tipificação da violência de gênero, políticas, instrumentos e equipamentos sociais de proteção acessíveis pela APS; o cuidado à saúde do homem envolvido em contextos de violência na atenção primária.
Os profissionais de saúde serão provocados a pensar na aplicação das ações em seus ambientes de trabalho, envolvendo os personagens criados no curso. Haverá ainda a aplicação das atividades propostas para os cuidados com os personagens e também de suas famílias, junto a elementos que facilitam e dificultam as ações.
O projeto preparará ainda dois cursos EAD auto instrucionais para profissionais de nível superior e médio da atenção primária à saúde e um acervo de comunicação e informação à saúde sobre o tema para atingir professores da rede pública, adolescentes, profissionais de saúde, homens e mulheres adultos.
O coordenador de Saúde do Homem na APS na Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Douglas Moreira, participou da formação. Para ele, o profissional da atenção primária, seja na Unidade Básica de Saúde (UBS) ou durante as visitas domiciliares, tem um contato muito próximo com a rotina das pessoas. “Essa proximidade, esse vínculo, é o que faz a diferença. O profissional consegue identificar a violência com mais facilidade e intervir de forma mais efetiva”.
“O homem vem de uma formação intimidadora, violenta e muitas vezes não se reconhece como alguém que está praticando violência. Muitas vezes o profissional da atenção primária vê o problema, mas não sabe o que fazer. Então, essa qualificação é essencial para instrumentalizar esses profissionais. Eles precisam saber como abordar a questão com o homem que está praticando a violência e ajudar a transformar essa realidade”, completou Douglas.
A Política Nacional de Atenção Integral de Saúde do Homem (Pnaish) destaca a importância de abordar a violência enquanto um fenômeno multicausal, decorrente dos processos de socialização que associam o exercício da masculinidade no envolvimento em situações de violência.
Aspectos culturais
Há fatores que tornam o homem mais vulnerável à violência, tanto no papel de autor quanto no de vítima, como a formação das masculinidades hegemônicas, que favorecem uma maior exposição dos homens a violências praticadas e sofridas. A Pnaish reconhece que essa forma social de poder representado pela violência implica em sofrimentos e transtornos, mesmo para quem a pratica.
“A preparação de profissionais de saúde para lidar com esses aspectos culturais e para identificar homens em sofrimento psíquico ou transtorno mental, o que favorece a prática da violência ou sofrimento devido a ela, é extremamente necessária para o cumprimento do princípio de integralidade na atenção à saúde dos homens”, ressaltou a diretora de Gestão do Cuidado Integral, Grace Rosa.
“O lançamento da Equalisah neste momento representa um compromisso com a campanha de 21 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, uma adequação nacional a partir de uma agenda global liderada pela ONU Mulheres. É algo que se soma à campanha do Laço Branco, celebrada anualmente em 6 de dezembro,na mobilização mundial de homens pelo fim da violência contra as mulheres”, destacou Celmário Brandão, coordenador de Atenção à Saúde do Homem.
Equipe do Nesp, com informações do Ministério da Saúde